domingo, 29 de dezembro de 2019

CRISTOLOGIA - Parte 3

Nesta aula, veremos as heresias criadas a fim de explicar a natureza humana e divina de Cristo, bem como os concílios que definiram o que a igreja pensa a respeito. 

CRISTOLOGIA - Parte 3

Olá! bem-vindo de volta, continuamos com a cristologia. Quando conversamos sobre cristologia, precisamos falar sobre heresias dentro do próprio cristianismo, de movimentos de pessoas que não fizeram essa consideração da maneira como entendemos hoje. Lembra que Jesus tem duas naturezas, a natureza Humana natureza Divina. A primeira geração não teve esse problema que a segunda geração teve, a necessidade de explicar. Surgiram diversos líderes defendendo várias coisas, hora afirmando as duas naturezas, hora negando uma das duas. Por exemplo, Eutiques, Bispo de Alexandria que confunde as duas naturezas, humana e divina, de forma que quando ele foi ensinar sobre quem era Cristo, dizia que uma natureza engoliu a outra. Ele foi condenado, no sentido de refutado o seu pensamento, no ano de 451.  

HERESIAS - DOCETISMO 
O docetismo traz essa ideia grega de que a matéria é má, então se a matéria é má, como que Jesus poderia vir em carne? obviamente isso que é humano não é bom e Ele não podia ter um corpo humano. Docetismo vem de uma palavrinha do grego chamada δοκέω [dokeō], "parecer", ou seja, ele parecia humano mas não era humano. O gnosticismo tem essa cristologia docética. 

HERESIAS - EBIONISMO 
O ebionismo, já no primeiro século, negava a pré existência. Jesus não existiu sempre, ele começou a existir em um determinado momento, a ideia de que quando ele foi batizado começou a existir. Ainda tem muita igreja em nossos dias que defende um pouco essa ideia ebionista, de que Jesus se tornou Deus, que ele recebeu o Espírito Santo e nesse momento é que ele se conscientiza que é o messias. Você verá alguns pastores passeando por esse território justamente por não saber. Por isso que eu gosto muito da pergunta e repito “Se você não conhece uma boa teologia, de que Cristo você está falando?Num Cristo que parece homem, de um Cristo que parece Deus, em um Cristo que a natureza humana e divina são confusas. No pensamento ebionista Jesus era um profeta extraordinário, conforme vimos na primeira fala de C.S. Lewis, quando falamos de teologia da libertação, é possível o mesmo raciocínio. Você está falando de alguém que é extraordinário mas não é Deus, é alguém muito legal, muito bacana mas existe essa diminuição do lado divino de Jesus Cristo.  

HERESIAS - NESTORIANISMO
Nestor era um bispo, pastor, um líder local da igreja em Constantinopla. Nestor tem uma ideia muito interessante que Jesus Cristo fosse super habitado, é humano mas é como se recebesse uma mega energia espiritual. era um humano tão cheio de espírito que Ele fez o que fez. Em 451 questionaram Nestor, pois ele tentava explicar as naturezas de Cristo como se Ele fosse O Incrível Hulk, a qualquer momento surge uma natureza dentro de Jesus que ele virava mesmo divino, era uma coisa meio sem controle, uma natureza atropelava outra. Uma hora ele era Bruce Banner, outra hora ele era Hulk, uma hora ele era homem, outra era Jesus. Estava muito mal resolvido entre o que que era humano e o que era divino. Ao longo dos séculos esse tipo de confusão foi muito comum. Particularmente eu tenho muita dificuldade de acusar Nestor como um charlatão. Ele era alguém que na sua época, ano de 428, que assumiu a igreja e está tentando explicar, que estava tentando olhar para trás, criando significados de que se Ele era Deus, era homem. Nessa dificuldade, Nestor começa a ensinar mesmo não tendo certeza e outras pessoas precisaram vir para explicar que Nestor havia entendido errado. Por isso a necessidade dos concílios e das reuniões daquela época, são fundamentais para que a nossa fé cristã tenha sido preservada ao longo desses séculos.  

HERESIAS - CERETIANISMO 
Essa próxima heresia defende a ideia de que Jesus Cristo ganhou a divindade na imersão do batismo, mas na morte ele a perde. Ele não foi sempre Deus e sempre homem, teve uma hora de ser homem e teve uma hora de ser Deus. 

 HERESIAS - APOLINARISMO
Apolinário defende que Jesus tinha um corpo físico mas ele não tinha uma mente humana. A ideia é como se Jesus fosse um folheado de divindade, ele não é necessariamente as duas coisas, então ele é um híbrido. É difícil ver em Apolinário as duas naturezas de bem desenhadas. Apolinário foi desmentido no Concílio de Constantinopla no ano de 381.

 HERESIAS - ADOCIONISMO
Aqui, se nega a divindade de Cristo. Jesus era alguém tão submisso ao Pai que tornou-se Cristo por essa obediência tão perfeita. Muitos liberais de hoje usam essa ideia meio adocionista. 

HERESIAS - ARIANISMO
Está na base do Concílio. Diácono de Alexandria, Ario defendia que Ele era apenas uma criatura e não era um Deus. Você perceberá um pêndulo de heresia para heresia, de ensinamento para ensinamento, hora não sabendo como se equaciona a questão da divindade, hora não sabendo como se equacionar a questão da humanidade. Vez após vez cada uma dessas teorias falham.  

Nós temos alguns documentos históricos que vale a pena olhar, para que você se posicione, entenda mais um pouco sobre essa questão das naturezas e de como essas heresias distorcem o ensinamento bíblico da natureza de Cristo. No ano de 1529 foi publicado o Catecismo Menor. Vale a pena você ler esses documentos1 para que você consiga basear a sua fé e decidir em que Cristo Você acredita. Vou ler um trecho deste Catecismo Menor, publicado em 1529: “Eu creio que Jesus Cristo, verdadeiro Deus gerado do Pai na Eternidade e também verdadeiro homem nascido da virgem Maria,  seja  meu  Senhor,  o  qual  redimiu  a  mim,  uma  pessoa perdida  e  condenada,  adquiriu,  recuperou  de  todo  o  pecado,  da morte  e  do  controle  do  diabo[...]” Cada  uma  das  funções  desses  catecismos,  são  tentativas  de elaborar  o  mistério  de  um  Cristo  que  é  plenamente  homem  e  um Cristo  que  é  plenamente  Deus.  Cuidado,  por  mais  que  isso  seja um  discurso  filosófico,  deve-se  ao  fato  esse  período  histórico  era composto  de  inúmeros  pensadores  filósofos  bem-conceituados. Roma  domina  a  Grécia,  mas  os  pensadores  da  época  são herdeiros  dessa  tradição  da  filosofia  grega.  Essa  filosofia  grega presente  no  Império  Romano  é  intrínseca  a  vida  cotidiana,  pensar em  filosofia  era  absolutamente  comum.  Para  alguém  defender  a sua  fé  naquela  época  faria  uso  da  filosofia,  seria  o  equivalente  a alguém  usar  o  YouTube  hoje  para  defender  sua  posição.  Se  eu quero  falar  alguma  coisa  hoje,  eu  vou  no  YouTube  e  gravo  um vídeo  e  naquela  época,  se  eu  quisesse  defender  alguma  coisa,  eu falava  através  da  filosofia,  isso  é  um  dado  cultural.  Se  eles queriam  se  fazer  entender,  tinham  que  usar  a  linguagem  da época. Então  os  catecismos  (ensinos)  foram  aparecendo,  os  documentos foram  aparecendo,  que  tentaram  definir  acerca  do  mistério, porque  cada  vez  que  uma  dessas  pessoas,  um  desses  homens tentava  explicar,  quem  era  Cristo,  eles  deformavam  um  lado  da natureza.  Apesar  dessa  linguagem  filosófica,  é  como  se  fosse uma  capa,  uma  proteção,  para  que  o  mistério  de  um  Deus  que  é homem  e  Deus,  de  um  Jesus  que  é  homem  e  Deus,  permaneça intacto.  Por  mais  que  tudo  isso  tenham  um  linguajar  filosófico,  é uma  teologia  cristológica,  é  uma  tentativa  para  não  romper  o mistério.   

Enquanto se constrói esses discursos, estamos tentando evitar que todas essas teorias acabem com o mistério da afirmação bíblica que essa primeira geração não precisou se aprofundar. Todas as gerações que lutaram, usaram esses argumentos filosóficos. O próximo documento que vou citar é a Confissão De Augsburgo, de 1530. “Ensinam outrossim que o Verbo, isto é, o Filho de Deus, assumiu a natureza humana no seio da bem-aventurada Virgem Maria. De sorte que há duas naturezas, a divina e a humana, inseparavelmente conjungidas na unidade da pessoa, um só Cristo, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, que, nascido da Virgem Maria, veramente sofreu, foi crucificado, morreu e foi sepultado.” Esses documentos atestam, testificam a necessidade de proteger esse significado maior do que significa um Cristo encarnado. Se você quer se aprofundar na cristologia, vale a pena separar um tempo e ler cada um desses artigos para que você se familiarize com essa linguagem filosófica e a partir dela, você possa traduzir para o tempo de hoje. Um dos documentos mais conhecidos, mais famosos, é a Confissão de Fé de Westminster, de 1646, muito usado pelos presbiterianos até hoje. “Aprouve a Deus, em Seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, Seu Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o homem; o Profeta, o Sacerdote, o Rei e o Cabeça e Salvador de Sua Igreja[..]” Documento que vale a pena ler, de 1647, o breve Catecismo Na Assembleia De Westminster, que são documentos fantásticos, fabulosos, não tem como não estudá-los se queremos aprofundar esse assunto. Por favor, vença o desafio de uma linguagem cansativa filosófica e se aprofunde nestes documentos. Quando se está pensando nessa formulação clássica, nesse raciocínio filosófico, afirmamos que Cristo é verdadeiramente Deus, Cristo é verdadeiramente humano, Cristo é uma só pessoa. “Há nele duas naturezas, divina e humana, claramente distintas e substancialmente diferentes, mas inconfundíveis e imutáveis, indivisíveis e inseparáveis”. Louis Berkhof. Hoje, ao falar sobre isso na igreja, resumimos séculos e séculos e séculos e séculos de história e debates, de gente que morreu, gente que sofreu, gente que defendeu isso com a própria vida, com a frase dizendo que Jesus foi 100% homem e Jesus Cristo foi 100% Deus. No púlpito, passamos pela cristologia e afirmamos o consenso que Jesus Cristo, por ser um mistério, era 100% homem e 100% Deus, essa é a formulação clássica. CATÓLICOS X PROTESTANTES Vivemos no Brasil o clima de anti protestantismo e anti catolicismo. Ainda se vê muito quem é católico ser anti protestante ou anti evangélico e vice-versa, com esse raciocínio de ser contra mais do que se é a favor as suas próprias crenças. Existem muitas coisas que separam essas duas linhas de pensamento, mas quando se fala de fé cristã, há um ponto de interseção entre catolicismo e protestantismo e visivelmente ambos tentam negar que esse ponto existe. Quando um católico está negando isso, ele desconhece a história, quando o protestante está falando isso, ele também desconhece a história, porque existe um pacote filosófico que a igreja sempre defendeu. Isso se deve então a natureza o conceito que foi defendido pela igreja no ano de 381.

 CONCÍLIOS
O concilio da Calcedônia, criado pelo Imperador chamado Marciano, tinha um objetivo político. O imperador não era religioso mas percebeu que as igrejas estavam com algumas divergências e reuniu a liderança, os bispos da época com o objetivo de organizar a crença para igreja não rachar. O concilio nasce da preocupação de um político que não quer ver o seu Reino dividido porque isso seria pior para ele, Marciano reúne este concilio para colocar em pratos limpos e saber o que a Igreja Cristã crê. Esse Concílio foi muito importante pois organizou essas controvérsias que foram formuladas no primeiro concilio de Nicéia, onde pela primeira vez se foi debatido sobre as duas ideias: homem, Deus. Jesus Cristo tem essas duas naturezas. A resolução desses concílios são muito importantes porque definem a fronteira do que iremos crer. Você pode não saber, mas a sua fé de acreditar no Jesus Cristo é respaldo desses Concílios. Vou ler esse texto a respeito da sistematização do pensamento cristológico no concilio de Niceia e confirmado no concilio de Constantinopla: 2História dos Concílios disponível em espanhol no site: http://portalconservador.com/livros/Alberigo-Giuseppe-Historia-de-los-Conciliosecumenicos.pdf Resumo em Português: https://goo.gl/PD3n8E https://goo.gl/MSjmMN

“O unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não criado, de uma só substância com o Pai; pelo qual todas as coisas foram feitas; Esse mesmo senhor Jesus Cristo por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito Santo da Virgem Maria tornou-se homem.” Em Calcedônia, 451, essa ideia é expandida um pouco, mas a base continua a mesma. Acompanhe comigo parte do texto: “Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, inseparáveis e indivisíveis; a distinção da naturezas de modo algum é anulada pela união, antes é preservada a propriedade de cada natureza, concorrendo pra formar uma só pessoa e em uma subsistência; não separado nem dividido em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor” Esses três concílios definem o conceito filosófico do pensamento, organizaram sistematicamente, filosoficamente, o tempo que se discutia sobre essas questões. Seja qual for seguimento da igreja, pode ser ortodoxa, pode ser a católica, pode ser protestante, todos nós viemos desse mesmo ponto. Não tem como ser cristão e rasgar esses três concílios. A igreja de Antioquia dá uma ênfase para falar sobre as naturezas, logo, quando você fala de natureza está falando de natureza humana de natureza Divina. A igreja de Alexandria dava ênfase de falar sobre a pessoa e quando estamos falando de pessoa hoje, dizemos que só existe uma pessoa, uma pessoa e duas naturezas.   
Esse é o mistério que a primeira geração nunca teve que exemplificar para ninguém, já as próximas gerações tinham que explicar para as pessoas que existe um ser transcendental, Deus o nosso Deus, que é uma pessoa só, mas tem duas naturezas. QUESTIONAMENTOS Há alguma coisa da natureza Divina que passa para humana e vice versa? Elas se comunicam, será que existe alguma coisa do divino que fica marcado para o humano? quando eles estão colocados juntos no mesmo corpo, o que acontece? Cristologia é pensar como que eu administro essas duas naturezas dentro de uma pessoa só. O estudo da cristologia é um estudo que gasta tempo e temos uma quantidade de raciocínios e argumentos para explicar o mistério, o que não é uma tarefa fácil ou simples. A pergunta que eu faço é: o que se comunica do humano com divino? o que não se comunica? Sabemos que existe coisas em Deus que estão só em Deus, um homem é muito pequeno para abrigar em si tudo que há em Deus, mas sabemos que há alguma coisa que está se comunicando. O estudo da cristologia nos leva a saber o que se comunica e o que não se comunica. Ao longo de todos esses séculos a igreja defendeu a sua posição, por isso mencionei os documentos, dos concílios, eles sintetizam tudo o que a igreja definiu sobre esse assunto. É importante ler, é importante conhecer o que a Igreja defendeu. Terminarei citando um puritano, John Owen. Em 1500, ele levanta uma polêmica muito interessante, se estamos pensando de uma pessoa que tem duas naturezas, consequentemente estamos pensando em alguém que tem duas vontades, dois conhecimentos, e duas outras coisas. Na próxima aula veremos textos referentes a isso, que diz que Jesus é chamado de bom e Ele diz eu não sou bom, o Pai é bom. Ou quando Jesus é confrontado e Ele disse: eu não sei a hora só o Pai sabe. Tentaremos fazer encaixe final de como essas naturezas estão conversando entre si e, se existe uma vontade humana e se existe uma vontade divina, elas estão ali dentro do nosso salvador e elas conversam. Te espero lá. Deus te abençoe. 

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