O livro de Apocalipse e a proposta fazer uma conversa bem pastoral evitar algumas discussões pretendo também falar as principais correntes que interpretam o livro de Apocalipse
APOCALIPSE – PARTE 1
Neste primeiro momento, gostaria de iniciar este módulo com uma breve conversa Pastoral, a fim de que possamos entender melhor a essência desse livro que é tão importante para a fé cristã. Precisamos entender a palavra-chave desse livro, o assunto que ele aborda. Quando fizemos a leitura do livro de Hebreus, percebemos que existe uma série de livros na Bíblia que foram escritos para pessoas que estavam passando tremendas dificuldades. Apocalipse não é diferente. Mas, se tivéssemos que pensar em uma palavra-chave para o livro de Apocalipse, pensaríamos na palavra “esperança”. Ler Apocalipse é pensar sobre esperança. A palavra Apocalipse significa Revelação – essa é a ideia que está se descortinando. E percebemos, ainda, que essa revelação está necessariamente vinculada à esperança.
A conversa sobre Apocalipse é também uma conversa sobre escatologia, que significa “as últimas coisas”, ou seja, as últimas coisas que vão acontecer com a igreja, com o mal, enfim, o livro de Apocalipse é o livro das últimas palavras. Para propor algo diferente, gostaria de basear essa aula no livro “Trovão Inverso”, de Eugene Peterson. Indico que você adquira esse livro. Portanto, nossa aula será uma conversa sobre Apocalipse a partir de uma perspectiva diferente, pela ótica da esperança.
(1) Primeiramente, precisamos entender Apocalipse como sendo uma escrita pastoral. João é um pastor e teólogo, além de ser também um poeta. É pastor porque vive em uma comunidade que está vivendo um drama, e ele tem a responsabilidade de apascentar várias pessoas, várias famílias que estão passando perseguições e sendo espremidas e pelo Império Romano. Isso, porque nesse primeiro século da Igreja Cristã, as coisas estão realmente muito complicadas, e sabemos que houve 300 anos de perseguição da igreja, um longo período onde ela foi tremendamente massacrada. Assim sendo, ler o livro de Apocalipse nos leva a entender que João é um pastor, que estava tentando cuidar, encorajar as suas ovelhas, preocupado em levar uma palavra de exortação a este grupo. Mas João era também um teólogo. Embora essa palavra esteja tão desgastada em nosso meio, o sentido de teólogo é alguém que leva Deus a sério, que fala sobre Deus. Ele fala em um diálogo com a sociedade, com o que está acontecendo, com um olhar para comunidade, para a Bíblia e para o que está acontecendo, criando pontes entre as Escrituras e a realidade objetiva. João, então, está sendo teólogo porque está conseguindo enxergar a sociedade dar-lhe um diagnóstico, injetando anticorpos na sua comunidade. E quando pensamos em João como poeta, devemos pensar que um poeta é aquele que leva as palavras a sério. Se por um lado, o pastor é aquele que leva as pessoas a sério, por outro lado, o poeta é aquele que leva as palavras a sério. Ninguém lê uma poesia querendo aumentar seu nível de informações ou com o objetivo de ter conhecimento por conhecimento. Quando lemos uma poesia, estamos atrás de uma experiência. Assim sendo, ler Apocalipse é também fazer essa leitura dentro de uma perspectiva poética. É ter uma experiência com um símbolo do futuro. Portanto, é muito importante que nós nos deixemos impactar por essa experiência, com símbolos. Então, se estamos lendo o livro de Apocalipse sem sermos impactados por toda essa estrutura de um poeta, de um teólogo e de um pastor, está na hora de repensarmos e fazermos uma nova leitura desse livro. A escatologia que atinge o seu objetivo é uma escatologia que traz consolação. E se assim não o fosse, seria uma péssima escatologia. Assim sendo, se você leu o livro de Apocalipse ou escutou alguma ministração a respeito e não se trabalhou a questão da consolação, então essa leitura ou ministração perdeu o alvo.
Você pode até conhecer todas as teorias de Apocalipse e defender sua posição com muita perícia, mas se não foi mergulhado, se não foi tocado pela consolação que a escatologia pode trazer na vida do crente, isso significa que é preciso recomeçar todo seu processo. Escatologia, portanto, são as últimas coisas, é uma conversa que João tem com a Igreja, que agora é extensiva a todos nós. Essa conversa sobre as últimas coisas tem o intuito de trazer esperança. Temos então, João, um velho apóstolo preso, que chama o seu rebanho, que o arrebanha e começa a conversar sobre as coisas que irão acontecer. Ele faz isso como se fosse um pai em um leito, chamando de filhos e conversando sobre a vida e o que está por acontecer, em um tom absolutamente pastoral. Portanto, meu desejo é que nossa conversa sobre Apocalipse, a consolação encontre o seu coração. Dentro da visão que Eugene Peterson está trazendo em seu livro, podemos ver dois reinos brigando: o Reino dos Céus e o reino romano, que é o símbolo do próprio mal. Temos, então, esses dois reinos em combate feroz, e o que aquela igreja está vivendo é que o Reino de Deus parece que está com os dias contados, como se viesse a ser destruído pelo Império Romano. Essa é primeira perspectiva do que eles estão vivendo naquele tempo. Com todos os acontecimentos, de um Império Romano cada vez mais cruel, cada vez mais feroz, que usava cristãos como lanternas nas praças – ateados em fogo, eram pendurados em estacas e tacavam fogo para iluminar. A criatividade do Império Romano de ser cruel com os cristãos eram algo realmente muito assustador. É nesse cenário, da luta da igreja sendo esmagada e com a forte sensação de que o império do mal vai vencer, que João chama a Igreja e todas aquelas comunidades para ouvir sua mensagem. E assim ele apresenta Apocalipse como que se fosse um filme, cheio de sensações e realismo. Então esse poeta, esse pastor e teólogo chama toda a comunidade para “experimentar” essa leitura, com todas as sensações que a obra lhes despertada, a fim de conhecer mais do que está no coração do nosso Deus. Portanto, fazer a leitura de Apocalipse é como se você estivesse em uma grande sala de cinema escutando João ministrar. Tratase de uma litura que tem cheiro, tato, audição, visão... Se você pegar o livro de Apocalipse perceberá que ele começa com audição, terminando com visão. Dessa forma, se tivéssemos que ilustrar a leitura de Apocalipse, é como se estivéssemos assistindo um filme não de 2D ou 3D, mas de “20D”, tamanha dimensão do realismo de tais escritos. É como se pudéssemos sentir o cheiro do enxofre, ver a luz do mar de cristal, a bacia... ouvir as vozes de anjos cantando, enfim, todos os nossos sentidos vão sendo desafiados. O número, nesse livro, é como a extensão do tato, então, quando as pessoas estão escutando Apocalipse estão sentindo o paladar e todos os outros sentidos que estão sendo desafiados, para que a mensagem de consolação os atinja por inteiro. Temos então as últimas palavras sobre as próprias Escrituras, e, ao lermos vemos Apocalipse 1:11, precisamos entender que a revelação não é para trazer informações por si só. Mas sim, para trazer envolvimento com Deus. Portanto, a decisão de trazer esse material de leitura para dar embasamento à nossa aula, é porque a maioria das pessoas são realmente peritas em falar sobre as teorias do Apocalipse. No entanto, poucas delas conseguem desenvolver uma intimidade a partir do texto com segurança. O livro de Apocalipse tende a deixar as pessoas mais com medo do que esperançosas. Isso é sinal de que estamos fazendo a leitura do texto erroneamente. A revelação, então, visa desenvolver uma intimidade com Deus. Dessa forma, Apocalipse é um livro que conversa com todos os nossos sentidos. Ele começa com a visão (Ap 1:3) e termina com audição (Ap 22:8). É, portanto, um livro que desafia a nossa imaginação, pois o crente precisa ser imaginativo, uma vez que Apocalipse nos convida a esse exercício de fé e imaginação, para que, apesar de que tudo nos diz que seremos devorados por um império maligno, creiamos que Dono do Reino é quem tem a palavra final.
Apocalipse é um livro que fala sobre Cristo, os Evangelhos apresentam Cristo, as Epístolas ensinam sobre Cristo, enfim, Ele é a Palavra Final em toda Bíblia, é o centro é o Trono. Em Apocalipse 1:12-20 vamos começar a perceber quais são as últimas palavras que a Bíblia tem para nos falar sobre Cristo. Ele começa dando uma informação de algumas características próprias de Jesus, de sua forma de viver, e então O encontramos ceiando com uma prostituta, almoçando com um cobrador de impostos, “desperdiçando” tempo abençoando crianças - enquanto havia milhares de soldados romanos que precisavam ser expulsos de Israel, porque o povo queria uma revolução. E continuamos vendo Jesus curando fracassados sem importância, desprezando fariseus e saduceus importantes, conversando como rei e agindo como escravo, pregando com autoridade, mas vivendo como nômade. Dessa forma, Jesus é apresentado em toda a Bíblica como essa figura incompreensível para maioria das pessoas. Em Apocalipse, começamos a enxergar, ouvir e ser atingidos em nossos sentidos com relação às últimas palavras que a Bíblia tem a falar sobre Jesus Cristo. Aqueles cristãos da segunda e terceira geração que tinham contato com o Jesus histórico, corriam o risco de que se perdesse a dimensão do Jesus Senhor dos senhores e Rei do Universo. João então está criando um trabalho para que essas pessoas não perdesse a dimensão de que Jesus Cristo é Rei e Soberano. Ele trabalha para as pessoas não caiam na armadilha de diminuir Jesus Cristo. E então temos o primeiro desenho que são as roupas. Jesus aparece vestido de determinada roupa. A ideia é que a roupa define a função. Um bom exemplo disso são os policiais, médicos, bombeiros... todos eles são identificados pela roupa que usam. E quando Jesus Cristo é apresentado, Ele tem uma roupa de sacerdote então a função de Jesus está sendo definida: a função de sacerdote. No latim a palavra “sacerdote” tem a ideia de “ponte” - como pontífice, que é muito usado na igreja católica. Dessa forma, o sacerdote é o mediador, é o que cria uma ponte. Então, quando Jesus está sendo apresentado com roupa de sacerdote em Apocalipse, podemos perceber uma clara identidade de alguém cuja função é criar uma ponte entre a Igreja e o Pai. Depois começam outras expressões tais como: cabeça e olhos, cabelos brancos etc. Dessa forma, se temos a roupa que define a função, quando falamos das características físicas (cabelo, olhos, pés, mãos),
temos a definição do caráter. Portanto, quando olhamos as roupas, as expressões, as características físicas, todo esse conjunto nos permite identificar uma pessoa. Quando olhamos para Jesus, estamos também o identificando, e é isso o que João está tentando fazer. Ou seja, em cada novo elemento, João tem essa perspectiva de apresentar e revelar o caráter de Cristo, seja nos cabelos brancos, ou como alguém que tem experiência, que purifica, aquele que dos olhos saem fogo - não o fogo que consome, mas o que olha dentro de você.
Ainda falando sobre fogo, a Bíblia o apresenta de diversas formas: a coluna de fogo no Antigo Testamento, a sarça ardente, a chama no altar, a fornalha dos amigos de Daniel. Portanto, o fogo sempre traz uma ideia de purificação e Jesus, como sendo Aquele que tem os olhos de fogo, traz uma ideia essencialmente daquele que olha para dentro de nós, com um olhar purificador, que enxerga o que existe dentro de nós. Podemos então perceber que só o que não pode ser consumido é que vai permanecer por toda eternidade. E se Jesus está nos olhando com um olhar de fogo, é porque existe um projeto para que passemos a eternidade ao seu lado. E só sobrevive à eternidade aquilo que foi purificado; o que o fogo queima não tem peso de eternidade. Portanto, se Jesus está nos olhando e purificando, isso é um ótimo sinal de que essa eternidade e essa ligação estão sendo construídas dentro do nosso coração. Jesus Cristo exige pureza, por isso, essa força do fogo, pois estar n’Ele exige pureza. Por isso, vemos vários textos da Bíblia nos exortam a sermos santos: aparta-te da iniquidade, sede-se santo como Ele é Santo, aparta-te da mentira, purifica os teus olhos e os teus lábios etc. E assim o fogo arde em nós até que adoremos completamente, esse fogo está nos purificando a fim de que possamos nos render e viver em adoração. Ele queima nosso interior até que tudo que é estranho seja rendido à vontade de Deus. Portanto, precisamos ser queimados porque existe lixo, entulho e muitos elementos que impedem nossa adoração.
E só não vai mais haver dor depois que o fogo tiver consumido tudo de ruim em nossa alma. Enquanto houver entulho dentro do nosso coração, o fogo precisa continuar a consumir. Enquanto houver lixo dentro de nós - coisas que não perdoamos, coisas que fizemos ou não – o fogo precisa continuar consumindo. E os olhos de Jesus Cristo revelam que Ele está olhando para nós, consumindo tudo aquilo que nos impede de viver uma vida de completa adoração. E a dor acompanha esse processo, até que tudo seja consumido e que estejamos totalmente transformados. A próxima informação que o texto nos dá é da voz, quando a voz de Jesus é, que é comparada ao som de muitas águas. Mas por que essa comparação? Porque imagine um lugar onde o volume de água é espantosamente grande, a conversa fica impossível.
Da mesma forma, quando Jesus está falando, o som de Sua voz tem poder suficiente para calar ou inutilizar todas as outras conversas. Peço que tenhamos mais experiências em ouvir a voz do Cordeiro dessa forma, como uma voz que silencia. O tempo todo temos tanto barulho em nossa alma, que precisamos recuperar essa experiência de ter Jesus falando com voz de muitas águas silenciando todas as outras vozes:
da nossa ansiedade, do nosso medo, das confusões etc. Quando Cristo, de fato, falar em juízo se revelando, essa voz silencia todos os outros barulhos e ruídos. Por isso a metáfora com o som das muitas águas, que todos que escutarem a voz de Jesus, ficarão impressionados com o poder, com a majestade, com a potência e com o Seu alcance. É dessa forma que todo mundo que escuta a voz de Jesus Cristo vai ser impactado por ela.
Havia em sua mão direita sete estrelas, e a ideia é de ferramenta. Da mesma forma um soldado tem uma espada na mão, pronto para lutar; o pastor tem um cajado e está preparado para o trabalho. E essa ideia da mão direita tem a ação de trabalho. Ora, se soldado tem a espada, o pastor tem um cajado, então significa que podemos fazer a seguinte comparação: quando Jesus Cristo está com essas sete estrelas na Sua mão direita significa que Ele está vindo para reger, dominar, governar o universo. É a imagem de que Jesus está trabalhando, dominando as coisas. O texto de Hebreus diz que Cristo já tem todo o domínio em Suas mãos, mas nós ainda não percebemos. E então vemos em Apocalipse Jesus com Sete Estrelas na sua mão direita em uma atitude de que ele já governa todo o universo. Vamos então começar a perceber este governo de Cristo na história. Posteriormente o texto irá continuar e essas sete estrelas são relacionados com os sete anjos das sete igrejas. A ideia básica é que Jesus governa a história, mas que ele vai usar a igreja como instrumento de governo.
A importância da igreja na história nunca pode ser subestimada. E então essas últimas palavras sobre Jesus Cristo trazem esses elementos visuais (cabeça, olhos) e auditivos (voz de trovão) e toda essa série de elementos como se fosse um filme em muitas dimensões. Dessa forma, podemos ser tocados em nossos sentidos, para que a imagem de Jesus Cristo, que reina o universo faça parte de
nossa vida. Para que quando virmos o Império Romano ou qualquer império das trevas lutando contra igreja, os nossos sentidos sejam tão afetados a ponto de que, por mais que eu veja um soldado invadindo a igreja ou por mais que eu tenha notícias de alguma igreja na cidade vizinha sendo destruída pelo Império Romano, os meus sentidos tenham sido tão encharcados pelo governo de Cristo, que eu me posicione com ousadia e esperança. A Palavra de Deus me segura que eu posso ter essa esperança, pois os meus sentidos foram tocados e marcados de uma tal forma que eu sei que o meu Redentor vive, que eu sei que qualquer Império que se levantar na história vai ter o mesmo fim, seja o Império Romano seja o império da besta ou qualquer outro. Precisamos, ao ler o livro de Apocalipse, que os nossos sentidos sejam ativados, tocados, sensibilizados, que o domínio de Cristo é mais real e mais profundo de que ataque de um império maligno. Não é diferente agora, que somos constantemente atacados por impérios malignos e, mesmo que não saibamos dar o nome, nossa sensação continua sendo a mesma: que a força do império maligno é tão grande a ponto de nos fazer sumir na história, sem sabermos como resistir. Ler Apocalipse precisa que o nosso tato, audição e visão comecem a receber essa ministração da Palavra de Deus de que Ele já está com as estrelas na Sua mão, já está com as suas vestes de sacerdote, está construindo Pontes onde não existe, está governando e vai agir em favor da Sua Igreja.
E assim, as últimas palavras sobre Cristo nos trazem consolação, nos ensinam a ter esperança, e as visões verdadeiras - não as ilusões – são as que fazem as coisas acontecerem.
Por mais que o império maligno esteja atacando sua igreja, sua família ou sua nação, você precisa entender que a visão verdadeira do senhorio de Jesus Cristo faz com que as coisas aconteçam, porque Ele é o Senhor, o Dono da história. Que o Senhor te abençoe e que você esteja preparado, pois na aula seguinte nós continuaremos com os estudos no livro de Apocalipse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário