sábado, 7 de dezembro de 2019

Apocalipse - Parte 5

Tendo encerrada a sequência de áudios e vídeos de uma conversa pastoral acerca do livro de Apocalipse, nesta aula, nós vamos dar início aos estudos desse livro.

 APOCALIPSE – PARTE 5

 Chegamos à segunda parte de nosso estudo sobre Apocalipse. No primeiro grupo de estudos nós tivemos um tom pastoral, quando eu pedi, inclusive, que você deixasse lápis a caneta de lado, a fim de termos uma boa conversa. Dessa forma, nós pudemos conversar melhor e entendemos que uma boa escatologia sempre vai falar de consolação. Assim sendo, se começamos a reproduzir, pensar, meditar sobre escatologia e ela não nos levar na direção de esperança e consolação, significa que nós fracassamos.

 Mas a parti da aula de hoje faremos o contrário. Agora, já peço para que você coloque o lápis, a caneta, o computador, Bíblia, e tudo que você tiver a postos, para que nós possamos, a partir de agora, mergulhar no texto.

A primeira informação é que Apocalipse faz parte de um conjunto de literatura comum ao povo judeu, que é a literatura apocalíptica. É quase como se fosse um gênero literário, ao qual eles estavam acostumados. Nós vemos isso em Daniel em até mesmo em muitos outros livros que não estão incluídos no cânon. Portanto, o povo judeu já tinha familiaridade com a linguagem desse tipo de literatura. E como ela funcionava esse tipo de literatura? Quando as coisas estavam complicadas e realmente difíceis, era possível você escrever algum tipo de literatura para dar resposta para o sofrimento do povo. Esse tipo de literatura sempre tenta responder a essa condição humana, que está debaixo de ataque, do sofrimento e da perseguição. Veremos, então, dentro da Bíblia, os livros de Daniel, Apocalipse e outros, como registros dessa literatura apocalíptica. Assim sendo, toda essa literatura é escrita com esse propósito de responder à essa mesma questão do sofrimento do povo. Temos então duas formas comuns, as quais ainda podemos perceber nos dias de hoje. A primeira fórmula nos ensina: “Fica tranquilo, você não vai sofrer”. Temos também a segunda fórmula, que é possível percebermos no que Jesus fala às igrejas, para que “não temamos as coisas que estamos prestes a sofrer”. Mas Ele nos capacita para enfrentarmos esse sofrimento. Apocalipse, então, tem a ver com essa preparação, esse revestimento para podermos enfrentar esses dias terríveis.

OS DIFERENTES MÉTODOS DE Interpretação do Apocalipse 

 O próximo ponto que precisamos entender antes de chegar no texto são os métodos de interpretação, e eles são vários. Isso, porque cada grupo vai olhar para esse texto e entender uma realidade diferente, de acordo com o que eles estão interpretando.

 1º Grupo: O primeiro grupo é o preterista. Como o nome está dizendo, ele joga toda informação de Apocalipse para o passado, tudo já aconteceu. Por exemplo, algumas informações realmente têm a ver com aquele período exato da história, no Império Romano. A própria questão da marca da besta, se você consultar a história, e para isso indico um livro chamado "história do cristianismo ilustrada", de Justo González. E, mesmo entendendo que coisas já tenham acontecido no passado, eles negam a possibilidade de que qualquer outro acontecimento dessa natureza possa acontecer no futuro. 

2º Grupo: Existe a segunda linha que é a futurista, onde tudo que está no livro de Apocalipse só vai acontecer em um futuro que ainda não chegou. Trata-se do deslocamento do texto para o futuro. Ou seja, tudo é interpretado com base em coisas que ainda não aconteceram e servem de referência para um futuro. 

3º Grupo: Histórico 

Para o grupo histórico, é como se o livro de Apocalipse fosse uma narrativa da história do ser humano, do início até a sua consumação. Nesse caso, o livro de Apocalipse narra uma história da vida do ser humano. 

4º Grupo: Filosófico Histórico

 O próximo método é o método filosófico histórico ou da filosofia da história. Esse método defende a ideia é que o Apocalipse narra uma guerra entre o bem e o mal. Assim sendo, é mais uma questão filosófica e menos uma questão histórica. O plano de fundo histórico é só para sustentar essa narrativa da guerra entre o bem e o mal. 

5º Grupo: Histórico-Profético 

Neste último método que é histórico profético, defende-se a ideia de que Apocalipse seja uma história - ou tem uma relação com a história -, além de ser um livro Profético. Isso significa que Apocalipse se refere ao passado, ao presente e ao futuro. Essa é a abordagem que proponho. Quando lemos o livro de Apocalipse, a primeira pergunta é: “Quando você escuta um pregador ou um palestrante, como ele está enxergando o texto”? Entendemos que o livro de Apocalipse não consegue prender o tempo. Ou seja, ele atravessa o tempo no passado, no presente e no futuro. Ele fala ainda sobre essa batalha que nós vivemos em uma dimensão que extrapola as linhas do tempo. Assim sendo, pensar em Apocalipse é pensar na revelação que Jesus Cristo deu ao seu apóstolo João, uma revelação que rasga o tempo, que não está limitada nem ao passado nem ao presente, nem ao futuro, mas expande essa dimensão do tempo. 

CAPÍTULO 1 JESUS CRISTO É O CENTRO DE APOCALIPSE 

Em Apocalipse 1:1, logo na introdução, já percebemos que Jesus Cristo é o centro de todo o livro: “Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo; o qual testificou da palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto”.  
Portanto, a primeira informação que temos é que a revelação de Jesus Cristo é destinada aos seus servos, mostrando também a intervenção, Jesus entrando na história. Em Apocalipse 1:3 temos mais uma informação importante: “Bem aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo”. Perceba que existe uma relação de promessa e bem-aventurança com quem lê o livro de Apocalipse, ouve, pratica, e guarda no seu coração Assim sendo, feliz é quem lê Apocalipse, e quem recebe essa revelação de Jesus Cristo em seu coração. Feliz é aquele que sabe se posicionar diante desse livro tão importante. Já em Apocalipse 1:4,5, nós temos uma saudação, onde João saúda as igrejas que estão espalhadas na Ásia, e se apresenta. Obviamente João era alguém conhecido nessa realidade no primeiro século da Igreja. 

Provocação 

Pensando ainda sobre os métodos que vimos, isso fará toda a diferença no texto. Portanto, nós precisamos decidir o que faremos com os símbolos: se eles são literais (ao pé da letra) ou se são simbólicos. 

Vejamos alguns exemplos: 

👉🏿144.000 que serão selados: esse é um número literal ou é um número simbólico?

👉🏿 Mil Anos, o período do reino, este período é literal ou simbólico? Esse meu questionamento implica em qual seja o critério que você irá usar para dizer que é simbólico, e qual critério usará pra dizer que é literal. A primeira grande confusão que eu percebo, e por isso eu faço a pergunta, é que há pessoas que acreditam que o milênio é literal, mas que 144 mil é simbólico (ou vice-versa). E eu pergunto: por quê? Que argumento você usou para identificar um como sendo o simbólico, e o outro como literal? Por que que você chega a essa conclusão? Não seria mais coerente serem os dois simbólicos ou os dois são literais? Diante disso, meu pedido é que decida como irá fazer a sua leitura do texto, e de que forma você interpretará os símbolos e os números: reais ou simbólicos? Seja qual for, seja coerente com sua escolha de leitura. As grandes confusões é que nós já começamos a entrelaçar, sem nenhum critério. E aí passamos a desenvolver cada vez mais aberrações no texto. Voltando ao versículo 4, nós temos a saudação de João se apresentando às igrejas. É possível que o livro fosse usado no culto, na liturgia daquele grupo de cristãos desse primeiro século, até mesmo porque que nós já conversamos bastante a respeito do objetivo do texto que é trazer a consolação. 

Do versículo 11 a 17 temos uma abertura da visão: o que está sendo revelado diante da visão inaugural de João? Apocalipse 1:9: “Eu, João, que também sou vosso irmão, e companheiro na aflição, e no reino, e paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo”. Nesse texto, João fala que está preso por obedecer a Palavra e o testemunho. V 10,11 "Eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, que dizia: Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia". João Apóstolo está preso na Ilha de Patmos, e ele tem uma revelação, uma visão, recebendo uma ordem. E isso o que ele está vendo, ele precisa escrever e enviar às sete igrejas. Então nós vemos um objetivo claro de que essa revelação era para ser escrita, preservada e passada, a fim de poder alcançar o coração da igreja. Portanto, esse é o objetivo da revelação. E como fica essa visão de acordo com cada método que vimos? Se você usar o método preterista, essas sete igrejas já existiram e não tem nenhuma relação com o nosso presente. Se você usar o método futurista essas igrejas não existiram, ou estão para o futuro. É aí que nós vemos a fragilidade do método futurista, pois, se tudo está no futuro, como podemos encaixar a relação dessas igrejas? Essa outra ideia do método histórico ou da filosofia história, nós vemos outras pessoas que, em cada tempo, vão tentar posicionar dentro da história cada tipo de igreja. Essa relação histórica é a relação mais importante do texto. Acredito que sempre vão haver igrejas com características parecidas com a de Sardes, Tiatira e Pérgamo. Portanto, essa mensagem alcança a Igreja do Cordeiro em todo tempo, porque todo tempo a igreja precisa ouvir o que o Espírito está dizendo. João recebe a revelação que é para ser entregue para as sete igrejas. E então O vimos com sete candelabros, que são essas sete igrejas. Nos versículos 18 e 19 João apresenta as primeiras palavras de conforto que vem de Jesus, que nos conforta de uma maneira interessante: Ele traz o conforto se apresentando como sendo o primeiro e o último. A ideia é que ele limita. Ele começa e Ele termina. Então o consolo de Jesus à sua igreja é Ele dizer que abriu a porta no início da história, e ele fecha a porta no final da história. Portanto, Jesus se apresenta como Aquele que vive, o vivente, aquele que venceu a morte, que ressuscitou. E quando se apresenta, tem um objetivo de trazer conforto ao coração daquela igreja que está enfrentando todas aquelas dificuldades. Então nós terminamos Capítulo 1 com essas saudações, com essas primeiras palavras de conforto e Jesus Cristo se apresentando.

👉🏿 CAPÍTULOS 2 a 7 
A ABERTURA DOS SELOS

 Esses capítulos são a conversa, a narrativa ou o conselho de Jesus com a igreja, ou seja, são as cartas à igreja. Eu gosto de pensar no livro de Apocalipse como se fosse uma grande peça, constituída em alguns atos. É tudo muito teatral, dramático, Ele vai narrando a história de uma maneira muito poética, muito imaginativa, criativa. Então nós vemos, nesse primeiro ato, Jesus proclamando a Sua sabedoria. E vemos no Capítulo 4:11 que todas as coisas são feitas para Ele. E assim, Jesus é revelado através do texto: Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas”. - Apocalipse 4:11 Aqui, Jesus é mais uma vez apresentado como centro. E nos capítulos 4 e 5 nós temos uma visão da corte Celestial. É como se João, na sua visão, abrisse as portas do céu e nos dissesse como é essa corte celestial, como se estivesse apresentando um filme, uma peça de teatro. E então ele mostra esses personagens que habitam no céu. E quando João aponta para prestar corte Celestial nesses dois capítulos, surge o primeiro drama, que é o drama do selo: ninguém pode abrir, ninguém pode olhar e ninguém pode ler. E o anjo se interpõe, se colocando na frente, bradando em alta voz. E a reação de João ao anúncio é chorar, ficar comovido, porque a ideia desse selo é que a nossa história está contida nele, a história do sofrimento. Logo, poder ver esse selo aberto é ter a possibilidade de que a história seja revelada, onde possamos fazer as perguntas que nunca encontramos respostas. Ver esse selo ser aberto é ter descortinado nosso entendimento sobre onde a história do Cordeiro está nos levando, e o que podemos esperar de todas essas tribulações e provações. Então o brado do anjo encontra um grito da nossa alma.

Quando a gente está em intercessão e clamor diante de Deus, buscando muitas vezes respostas, o clamor do anjo é quem pode dar respostas aos seres humanos. Eu imagino que o João é introduzido na Corte Celestial no exato momento em que Jesus ascende aos céus. Obviamente é uma representação, mas o texto nos diz, em Atos, que Ele conversou com os apóstolos e acendeu aos céus. O texto ainda nos fala que Ele está agora à direita de Deus. Então, o brado do anjo remonta a um período em que o céu está se perguntando “quem vai abrir os selos”, visto que nenhum anjo pode abrir, olhar ou ler. Da mesma forma, não há ninguém na Terra com essa habilidade. E então cria-se uma expectativa sobre qual o ser que tem a capacidade de abrir este livro, de abrir essa possibilidade, de contar a história do ser humano de forma que essa história faça sentido em meio ao sofrimento – coisa difícil é a nossa vida fazer sentido no meio do sofrimento. E a abertura dos selos traz esse impacto de uma vida que faz sentido em qualquer tempo. O choro de João é o choro de qualquer ser humano que anseia por respostas, de quando a vida precisa de novas respostas. E então João é introduzido na Corte Celestial no momento em que o Cordeiro assume o Seu Trono, e Ele se revela como sendo Aquele digno de abrir o selo, para que a história continue ser contada. Nesse cenário nós vemos como a história vem se desenrolando, caminhando, até que trava no exato momento em que ninguém tem condição de abrir o selo. Mas quando o Cordeiro pega o livro ele rompe o selo - pois Ele é digno de abrir o livro -, a mensagem que fica é que Jesus está continuando a nossa história. Ou seja, existe uma continuidade. Vemos então as primeiras consequências desses selos abertos. Vemos que, quando isso acontece, a realidade do sofrimento humano começa a ser revelado. Curioso que quando os selos são abertos nós vemos todo esse caus. 

 O conteúdo dos selos 

Os selos são abertos, e então temos o significado de cada um deles.

 👉🏿 Primeiro selo: vemos o símbolo de um cavalo que sai vencedor para conquistar. Temos a ideia da conquista. 

👉🏿 Segundo selo: Clara ideia de guerra, 

👉🏿Terceiro selo: A fome

👉🏿Quarto selo: A morte.

👉🏿 Quinto selo: Os heróis da fé, os mártires.  

👉🏿 Sexto selo: Uma pergunta – “quem poderá sobreviver, subsistir ao último dia?” O sexto selo aponta, ao mesmo tempo, para o grande dia e para a pergunta: “Quem vai sobreviver?” E isso é curioso, pois existe tanta expectativa para os selos serem abertos e, quando isso acontece, o que nós encontramos? Vemos que os selos começam com conquista, mas e os outros selos? O que eles estão revelando? Guerra, fome, morte, martírio, um grito de espanto de quem poderá sobreviver. Quando a história é aberta se revela algo que nos surpreende, algo que está fora do nosso controle, mas algo que está no controle do Senhor. Quando a vida é revelada, quando os selos são revelados, nós parecemos não conseguir responder à questão do sofrimento humano. E então nós veremos um interlúdio no capítulo 7, marcando o fim do primeiro ato. Então quero chamar a sua atenção a este primeiro texto de que, abrir e revelar a história, não significa que nós entenderemos tudo. Quando Jesus abre os selos, nós ficamos na expectativa de entender, Ele abre os selos, e o sentimento é de que ainda não entendemos nada. Nos vemos na próxima aula. 

 Que Deus te abençoe 

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