terça-feira, 22 de setembro de 2020

A DOUTRINA - das Escrituras sagradas (Bibliologia)📖

A DOUTRINA DAS
ESCRITURAS(Bibliologia)

Quando a Palavra de Deus é negligenciada, a religião pura e verdadeira desaba. Quando ela desaba ninguém pode, nem será salvo. Erasmus Sarcerius (1501 - 1559). 

Introdução

A Bíblia é a única base da doutrina cristã. Por isso, se o conceito formulado sobre as Escrituras for errado, todas as outras doutrinas serão afetadas de modo negativo. Daí percebe-se a importância da concepção sadia da Bíblia. Quando ela
não é considerada do modo como exige, não pode servir de base para a conservação da “sã doutrina” (Tt 2.1).
Intimamente ligada à doutrina está a vida diária do cristão. O comportamento do crente deve ser um exemplo de doutrina posta em prática.

Portanto, se uma pessoa não tiver uma ideia correta acerca da Bíblia, isso também influenciará o seu modo de andar. Com efeito, a Bíblia deve ser para o cristão um manual de padrões para a vida. 

Se não for assim, o homem estará à mercê dos seus próprios modos errados e pecaminosos de pensar, os quais fatalmente o conduzirão à ruína. 

Deve ser lembrado que há pessoas que, apesar de professarem um conceito sadio da Bíblia, vivem em desacordo com isso. É claro que essas pessoas envergonham o Evangelho. Suas vidas espirituais são um verdadeiro fracasso.

A revelação

Revelação é, basicamente, o desvendamento de algo que era
desconhecido ou a manifestação de alguma coisa que estava escondida. No
contexto judaico-cristão essa palavra é usada para se referir à comunicação
que Deus faz de si mesmo e da sua vontade. Assim, em termos teológicos, a
revelação é um processo por meio do qual Deus desvenda ao homem seu caráter e seus desígnios. O resultado desse processo também é chamado de 
revelação.

Para fins de estudo, a revelação de Deus se divide em dois aspectos:

A revelação geral

  Refere-se ao testemunho que Deus dá si mesmo a todos os homens por meio da criação (Rm 1.19-20), da sua providência na história (At 14.15-17) e da consciência humana (Rm 2.14-15). A revelação geral alcança todos os homens em todos os lugares (Sl 19.1-6), mas não tem conteúdo redentor. O máximo que ela faz é expor alguns atributos de Deus, tornando os homens indesculpáveis por rejeitá-lo (Rm 1.20-23). 

A revelação especial ou específica

  Refere-se ao desvendamento do caráter e do plano de Deus na história da redenção (Sl 78; 107), na pessoa de Cristo (a expressão máxima da revelação – Jo 1.18; 14.9; Cl 1.15; 2.9; Hb 1.1-3) e nas Escrituras Sagradas (2Tm 3.16; 2Pe 1.20-21). A revelação especial tem conteúdo salvífico, ou seja, é possível alguém compreender o plano redentor de Deus por meio dela (2Tm 3.15). Contudo, ainda que 
destinada a todos, a revelação especial alcança efetivamente um número
limitado de pessoas.

A inspiração

Conforme visto, a Bíblia compõe a revelação especial de Deus, tendo sido inspirada por ele. Quando se diz que a Bíblia é inspirada por Deus, isto significa que o Espírito Santo supervisionou aquilo que os autores bíblicos escreveram nos autógrafos, isto é, nos escritos originais (as cópias não foram inspiradas) de tal modo que eles o fizeram sem cometer qualquer erro. Deus não ditou as palavras da Bíblia (apenas poucas partes foram 
provavelmente ditadas – e.g., a Lei), nem tampouco os autores bíblicos entraram em estado de êxtase para escrever os livros. O que Deus fez na realidade foi mover (2Pe 1.21) ou dirigir os escritores para que compusessem sua revelação usando suas personalidades, culturas e faculdades mentais. Desse modo, pode-se dizer que Deus falou através do homem (Mt 1.22; 2.15;1Co 14.37). É importante destacar que não é correto dizer que os autores bíblicos foram inspirados por Deus. O termo “inspirados” se aplica apenas aos livros bíblicos. 

Seus autores foram movidos ou impelidos (Gr. ferómenoi) pelo Espírito Santo. Alguns textos bíblicos que servem de base para esse ensino são Mateus 5.18; 22.43; 2Timóteo 3.16; 2Pedro 1.20-21 e Hebreus 1.1. 

Hoje não existe nenhum fragmento sequer dos escritos originais. Todos se perderam ao longo dos séculos. O que se tem agora são cópias, a maioria delas preparada por homens zelosos e habilidosos. Para se chegar ao texto original um trabalho científico denominado crítica textual tem sido realizado nessas cópias e em fragmentos delas. Graças à ação de Deus em preservar sua Palavra (1Pe 1.24-25) e aos esforços da crítica textual, o conteúdo dos autógrafos foi mantido acessível com precisão praticamente total.

O crente deve ter sempre em mente que a Bíblia, por ser divinamente inspirada, é:

Inerrante: Não há erros na Bíblia, seja no campo da ciência, da geografia, da história ou da filosofia (Jo 10.35; 17.17).

Infalível: O que a Bíblia ensina não conduz as pessoas ao erro. Nós caminhos e soluções que prescreve, ela nunca falha, de modo que a pessoa que a obedece pode caminhar segura, sabendo que está seguindo um mapa que a leva na direção certa. Ademais, suas promessas e profecias nunca falham. O que ela diz acerca do amanhã, certamente se cumprirá (Nm 23.19; Sl 119.9,11; Mt 5.18; Tt 1.2).

Além disso, uma vez que Deus a destinou a criaturas inteligentes com o objetivo de lhes transmitir verdades essenciais, a Bíblia também é interpretável. Isso significa que há um sentido específico (e não vários!) em cada porção do texto sagrado. Esse sentido pode ser descoberto por meio do emprego das regras normais de hermenêutica, usadas, inclusive, pelo próprio Cristo (Mt 22.41-46). 

É verdade que há trechos difíceis de entender, mas isso não autoriza ninguém a dar ao que foi escrito o sentido que achar mais conveniente, distorcendo as Escrituras (2Pe 3.15-16). Antes, o leitor deve buscar o significado pretendido pelo autor sagrado, sabendo que esse significado é claro na maioria das vezes e compõe a mensagem do próprio Deus ao 
homem. Por ser inspirada, inerrante, infalível e interpretável, somente a Bíblia 
pode ensinar o que é correto acerca do Deus único e verdadeiro. Assim, qualquer crença que a rejeite jamais poderá levar o homem ao real conhecimento da divindade. 


A canonicidade

Sendo inspirados por Deus, os livros da Bíblia são dotados de canonicidade. O termo “cânon” vem do hebraico (qaneh) e do grego (kánon) e significa, basicamente, vara de medir ou régua. Com o tempo, essa palavra passou a ter um significado mais amplo, indicando também uma norma ou padrão de qualquer natureza (Gl 6.16). Assim, quando se afirma que um livro é canônico, isso significa que deve
ser usado como uma régua para “medir” a validade do que o homem crê e faz.
Deve ficar bem claro que a canonicidade dos livros bíblicos não lhes foi imposta por homens. O fato de Deus tê-los produzido usando o processo da
inspiração visto acima é que lhes confere canonicidade. Os homens
simplesmente reconheceram essa qualidade presente nos livros bíblicos desde a sua produção. Aliás, mesmo os escritores bíblicos tinham consciência da
autoridade de seus escritos por serem revelação de Deus. Isso se pode ver,
por exemplo, em 2Samuel 23.2; 1Coríntios 2.13 e 14.37. 

Para reconhecer um livro como canônico foram usados os seguintes critérios:

Autoria profética ou apostólica: Para ser reconhecido, o livro deveria ser escrito por um profeta, por um apóstolo ou por alguém sob a autoridade de um apóstolo (por exemplo, Marcos escreveu seu evangelho sob a autoridade do apóstolo Pedro). 

Aceitação: Para ser reconhecido, o livro tinha que ter ampla aceitação entre o
povo de Deus. O reconhecimento da igreja em geral foi considerado fator muito importante, uma vez que o Senhor manifesta sua direção por meio do povo santo. 

Conteúdo: Para ser reconhecido, o livro tinha que mostrar harmonia doutrinária com a ortodoxia já fixada. Livros que apresentassem desvios ou negação de doutrinas consagradas foram rejeitados. 

Inspiração: Para ser reconhecido, o livro tinha que dar evidências de origem divina, falando com autoridade e apresentando valores morais e espirituais elevados, próprios de uma obra inspirada pelo Espírito Santo. O cânon - Enquanto o termo canonicidade se aplica a uma qualidade sobrenatural dos livros bíblicos, a palavra “cânon” é usada para se referir ao conjunto de livros que compõem tanto o Antigo como o Novo Testamento. A Bíblia é composta por 66 livros. Dessas obras, 39 fazem parte do Antigo Testamento e 27 do Novo. Os livros do Antigo Testamento são classificados da seguinte maneira:

Pentateuco - Gênesis, Êxedo, Levítico, Números, Deuteronônimo. Estes foram escritos por Moisés. 

Históricos - Josué, Juízes, Rute, 1 e
2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1
e 2 Crônicas, Esdras,
Neemias e Ester.

Poéticos - Jó, Salmos, Provérbios,
Eclesiastes e Cantares. 

Proféticos - Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel, 
Daniel, Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Quanto aos livros que fazem parte do Novo Testamento, sua classificação
é a seguinte:

Evangelhos - Mateus, Marcos, Lucas, João.

Atos - (livro histórico)

Epístolas PaulinasRomanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemom. 

Epístolas Gerais - Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João e Judas.

Apocalipse (Profético).

O judaísmo ortodoxo não aceita os livros do Novo Testamento. Já o catolicismo romano, desde o Concílio de Trento (1545-1563), recepciona os livros apócrifos que são 13 obras (incluindo fragmentos de livros) escritas durante a época do Império Grego (também chamado de período interbíblico) e que não são reconhecidas nem pelo judaísmo, nem pelo protestantismo. O termo “apócrifo” significa “oculto” e os livros sob essa designação são os seguintes: 1 e 2 Esdras, Tobias, Judite, adições a Daniel (Salmo de Azarias, Cântico dos Três Jovens, História de Susana, Bel e o Dragão), adições a Ester, Oração de Manassés, Epístola de Jeremias, Baruque, 
Eclesiástico (Siraque), Sabedoria de Salomão e 1 e 2 Macabeus. Alguns
manuscritos da Septuaginta incluem 3 e 4 Macabeus e os Salmos de Salomão.
A concepção de Jesus acerca das Escrituras Jesus expressou uma concepção extremamente elevada das Escrituras.

  No tocante a isso, os Evangelhos mostram o seguinte:

1. Jesus usou a Escritura para repudiar as tentações de Satanás (Mt 4.1-11).

2. Jesus realçou a perenidade da Lei Mosaica e dos Profetas (Mt 5.17-18),
tornando esses escritos comparáveis às suas próprias palavras (Mt 24.35).

3. Jesus destacou que o testemunho de todo o Antigo Testamento acerca dele se cumpriria (Lc 24.44).

4. Jesus aprovou a visão de que nas Escrituras se encontra a vida eterna (Jo
5.39).

5. Jesus afirmou que o Espírito Santo falou através dos autores bíblicos (Mc
12.36).

6. Jesus aceitou a historicidade de eventos bíblicos considerados questionáveis na atualidade (Mt 12.39-41; Mc 10.6; Lc 17.26-27; Jo 6.49).

7. Jesus defendeu a inerrância (ou, talvez, a integridade. Cp. Tg 2.10) da Escritura dizendo que ela não pode ser desmembrada (Jo 10.35).

8. Jesus destacou a importância de se conhecer profundamente a Escritura
(Mt 22.29).

9. Jesus valorizou detalhes gramaticais e palavras específicas do texto bíblico (Mt 5.18; 22.31-32, 43-45).

10. Jesus garantiu a composição inerrante do Novo Testamento, dizendo que enviaria o Consolador que guiaria os apóstolos nessa tarefa (Jo 14.26; 16.12-15).

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