quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Epístola aos hebreus - Parte 1

Neste módulo nós iremos abordar os dois principais segmentos do livro de Hebreus.  
(1)No primeiro, o autor enfatiza uma comparação entre Jesus e outros personagens, mostrando a Sua superioridade a qualquer um deles.

(2)No segundo segmento, o autor faz uma relação da tipificação de Jesus em Melquisedeque.
 Nesse início de módulo, gostaria que você abrisse o livro de Hebreus no capítulo 1 para podermos compreender melhor a sua estrutura. “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós    nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.” Hebreus 1:1,2 O escritor começa dizendo que Deus falou aos pais, na antiguidade, de maneiras variadas, mas que agora existe uma ênfase na figura do filho. Então, se antes a ênfase eram os profetas, agora o escritor de Hebreus começa fazendo uma abordagem importante, com outra ênfase, a fim de entendermos toda essa carta. Assim, a ênfase é que agora o Pai está falando ao seu povo por intermédio do Filho. Vemos essa ênfase no Filho nos dois primeiros versículos. Hebreus é o primeiro nome, ou nome mais antigo, que nós temos do Povo de Deus. Temos então os que vêm nesse último período da história depois de atravessar o exílio, que são os remanescentes, identificados como judeus. Na verdade, bem antes de Israel nós temos essa terminologia de Hebreus, um povo nômade, um povo que andava mudando de lugar. Então, nessa época, o nome do Povo de Deus era Hebreus. Isso nos mostra a primeira identificação do povo para quem essa carta está sendo enviada: para judeus cristãos que estão espalhados por todo o Império Romano que está tomando conta de todo o mundo, inclusive do povo de Deus em Jerusalém. Precisamos também nos lembrar de que os apóstolos ficam reunidos em Jerusalém, quando começamos a ver uma perseguição e a igreja começa a sair em várias direções. Só mesmo um grupo mais restrito, dos Apóstolos, que fica. Mas podemos observar na igreja em Antioquia um movimento grande e crescente, após a perseguição de judeus, se espalhando cada vez mais por todo o Império Romano.

Então essa carta está destinada a todo este povo que se espalhou, seja pela perseguição ou porque já estava lá, sendo alcançado pelo Evangelho. 

A segunda ideia que é importante a gente entender é que existe um sentimento comum que o escritor de Hebreus está tentando alcançar e combater, que é um sentimento de desistência. Ser cristão no Império Romano nesse momento se torna arriscado.

(1) Há risco de morte,

(2) de confisco de bens, as pessoas estão com medo de perder os seus bens,

(3) com medo de que seus laços familiares sejam quebrados etc. 

 Existe um pensamento que é latente como pano de fundo do livro de Hebreus, que é aquela ideia fixa de alguém que está querendo voltar para trás, de alguém que está pensando em desistir, porque ficou complicado e porque as coisas necessárias para sobreviver com essa nova fé cristã, estão se tornando muito difíceis. Não se sabe ao certo quem é o escritor do livro de Hebreus, embora muitos dizem ser Apolo, outros dizem ser Paulo, há quem diga até mesmo que foi uma mulher quem  escreveu. Embora não saibamos ao certo quem escreveu esse livro, é visível que seu pensamento é direcionado para combater uma ideia inicial: pessoas confrontadas, principalmente por seus irmãos judeus, que têm o constante pensamento de desistir de serem cristãos e voltar atrás, achando que é mais seguro e mais confiável voltar a ser judeu. 

O livro de Hebreus é fantástico e totalmente atual porque, em algum momento de nossas vidas, nós também, por vezes, sempre pensamos se não é melhor voltar atrás. 

Existem muitos pensamentos que nos questionam o tempo inteiro: será que a melhor alternativa não seria deixar a minha fé de lado e viver em paz, cuidando das minhas coisas e estando em paz com a minha família? Este é um pensamento que pode nos sugerir a ideia de que talvez a nossa fé em Jesus Cristo não seja a prioridade e que, por isso, talvez seja melhor realmente recuar.

Nota Pastoral 

Quero chamar atenção se caso você vá fazer um trabalho evangelístico a qualquer grupo, sejam eles travestis, mendigos, drogados ou quaisquer pessoas de todas as formas. Gostaria de chamar sua atenção a observar que muitos deles conhecem muito bem a Bíblia, alguns chegam a cantar um hino ou lê um texto. Muitos foram até mesmo líderes de igreja, outros têm até mesmo um conhecimento profundo sobre toda a estrutura de igreja e dizem ter experiências. São pessoas que, em algum momento na vida, não aguentaram e voltaram para trás.

O livro de Hebreus é uma resposta para essas pessoas que estão pensando em voltar, se sentindo ameaçadas. É quando o risco chega ao limite e precisamos tomar uma decisão entre continuar seguindo a Jesus ou voltar para trás. Então o argumento do autor de Hebreus é dizer que o filho Jesus Cristo é superior a qualquer coisa que eles viram ou viveram na tradição e na fé antiga

(1) O primeiro argumento, no primeiro capítulo, Jesus é comparado aos anjos e ele é comparado de tal forma a fim de que o motivo de nós permanecermos seja o entendimento de que Cristo é maior do que qualquer coisa. É promover a consciência de que Jesus Cristo é maior do que o risco, que o sofrimento, do que qualquer religião que tenhamos experimentado no passado. Quando isso virar, de fato, uma verdade, isso irá se transformar em uma âncora: saber que Cristo está acima de tudo. Quando nós somos confrontados pelo assédio, pela morte, pela possibilidade de perd er os bens, o que vai fazer com que permaneçamos firmes é a segurança de que Cristo é maior. Nós não sabemos o que vai acontecer com essas perseguições que temos em vários lugares, como a Índia, China ou Norte da África. Vivemos em um país onde não temos isso, mas fica a reflexão se nossa fé é suficientemente firme para permanecermos em tempos onde pessoas que nos são importantes e de quem gostamos começarem a nos perseguir.  
O livro de Hebreus tem essa resposta, e eu espero que ela alcance seu coração. 
Primeiro segmento do livro de Hebreus Já no Capítulo primeiro o escritor de Hebreus começa a comparar Jesus Cristo aos anjos. Ele faz essa comparação, pois os anjos têm uma figura fundamental na religião judaica. O próprio Estevão, no livro de Atos, antes de ser apedrejado em seu discurso, reflete o pensamento judaico de que, no momento que Moisés recebeu as leis, anjos estavam ali intermediando o processo. O livro de Hebreus está repetindo essa mesma ideia que faz o pensamento judaico na história. No Antigo Testamento você irá perceber que os anjos apareciam aos patriarcas, trazendo confiança em momentos de crise. Então o judeu sabe que a sua fé é uma fé diferente e segura, pois existem seres especiais que validam e confirmam essa fé. Eles estão cientes de que os anjos são testemunho de sua fé, que é verdadeira. É nesse cenário que Jesus entra, como ponto de comparação do escritor de Hebreus dizendo: “eu sei que vocês têm na sua tradição, essa experiência com anjos; o próprio Jacó brigou com o anjo, entã o os anjos estão presentes na história e na tradição de vocês”. Então acontece como uma espécie de disputa onde o judeu compara Jesus com os anjos: vamos ver quem dos dois é maior. Nos dois primeiros capítulos de Hebreus nós vemos o escritor questionando se os anjos podem ser adorados ou não. A resposta é que Jesus é quem deve ser adorado. A fim de validar alguns argumentos, o autor de Hebreus pega alguns livros do Antigo Testamento que provam que Jesus pode ser adorado, os anjos não. Jesus é o general, anjos são servos. Jesus é eterno, os anjos tem um momento de criação. Toda essa relação é necessária para mostrar que Cristo realmente está acima. Para os judeus, o judaísmo era uma boa religião, porque os anjos faziam parte e traziam segurança. Então o escritor de Hebreus questiona o porquê de eles buscarem a segurança dos anjos, uma vez que agora eles têm a segurança de Jesus.

 E os primeiros capítulos vão se desenvolvendo nesse sentido, de que Cristo é maior do que Moisés, que é uma figura importante, pois foi quem trouxe a lei. Porém, Jesus Cristo é superior a Moisés, e se houver uma disputa entre os dois, certamente Jesus é o que ganha. Se honra se a Moisés, muito mais a Jesus. 
E o autor de Hebreus então alerta que, se houver a intenção de voltar atrás por conta dos anjos e de Moisés, o povo estará voltando para algo que é precariamente menor. A mensagem de Hebreus é clara ainda em afirmar que, embora haja muita coisa importante na fé e na tradição dos judeus, se eles insistirem em conhecer a Cristo, isso será suficiente para o próximo passo para insistir na sua caminhada. E se eles têm uma revelação importante, em Jesus eles têm uma revelação ainda maior. Nos primeiros capítulos de Hebreus, então, o escritor está colocando vários personagens na balança juntamente com Jesus, para mostrar que Ele é maior. E então ele apresenta todos os argumentos de tudo que o povo conhece, mostrando a superioridade de Jesus. Mas embora isso seja fácil de entender na teoria, na prática nem sempre o é. Porque uma coisa é entender e acreditar que Jesus é acima de todas as coisas, mas no nosso dia a dia, com os nossos problemas de enfermidade, problemas pessoais e financeiros, temos a tendência de enxergar com muita clareza esses problemas, deixando de enxergar a importância de Jesus. 
O escritor de Hebreus está falando que você pode estar angustiado, pensando em olhar para trás, porque a vida está difícil, porque está arriscado continuar mantendo a fé. E ainda, por vezes, você está se sentindo tão terrivelmente impensado, que uma doença, uma enfermidade uma dívida, um relacionamento quebrado acabam tendo mais importância do que Jesus. Dessa forma, é mais fácil que Jesus seja subtraído ou esquecido em seu coração, porque as realidades e as dificuldades do mundo parecem ser mais reais do que Ele. Teoricamente isso é fácil de entender. Mas para que isso seja de fato uma realidade, realmente Cristo precisa ser superior na minha vida. Porque, do contrário, teremos sempre essa relação, tendo que ser relembrado o tempo todo dessa proporção. De alguma forma o Espírito Santo está conversando com a nossa alma dizendo: pese na balança, alma; todas essas coisas que você pensa em olhar atrás e colocar de lado. Jesus Cristo é maior do que os profetas, é maior do que qualquer coisa que a gente possa imaginar. Esse é o argumento do escritor de Hebreus. 

Em Hebreus 1:4 Jesus recebe um nome mais excelente do que os anjos. No versículo 6 o escritor cita Deuteronômio. Ele sabe que está falando com um judeu que é cristão, que tem conhecimento das escrituras, então ele está pegando a escritura para convencer. Existe um raciocínio lógico, uma coerência, uma tentativa de acalmar puxando pelo que o povo entende, pelo que o povo conhece. Então, no Versículo 6, ele está fazendo uma analogia com Deuteronômio 32:43, de quando Jesus nasceu como um homem, e dizendo que os anjos os adorem. É importante perceber que o escritor de Hebreus lança o argumento, mas faz uma relação do texto, para que o judeu perceba que aquilo já fora revelado. Ainda em Hebreus 1:7, ele faz menção de Salmos 104:4, com um texto que fala sobre ministros sendo tratados como fogo e vento; a ideia de que Jesus é o Mestre e Senhor, e os anjos, apenas servos e ministros. Podemos usar então isso como adjetivos. Da mesma forma que o vento, a natureza o fogo ou qualquer outra coisa servem a Deus, da mesma forma os anjos assim o fazem. Jesus é filho, é o Rei e os anjos são servos; Jesus tem um Reino de equidade e justiça, os anjos são espíritos ministradores que servem em benefício daqueles que hão de ser salvos. Vemos isso claramente no final do capítulo primeiro: Quem são os anjos? São espíritos ministradores que servem em favor da igreja e trabalham em nosso benefício. Então está estabelecida, de uma forma bem clara, a superioridade de Jesus Cristo em relação aos anjos. Segundo segmento do livro de Hebreus Nessa primeira parte que acabamos de estudar, vemos o autor de Hebreus, em todo momento, fazendo uma comparação entre Jesus e outros personagens, mostrando a Sua superioridade a qualquer um deles. Já no capítulo 7 podemos perceber que esse processo continua, porém, entra agora um personagem importante Melquisedeque, uma figura que temos muita pouca referência na palavra de Deus. Também iremos ver a presença do gnosticismo. O homem sempre percebeu uma necessidade de mediação, uma vez que não se consegue chegar diante de Deus com suas próprias pernas e com a nossa força. E então surge o gnosticismo, porém, desenvolvendo essa teoria da mediação de uma maneira contrária à Palavra de Deus. Quando falamos em Melquisedeque, estamos falando de mediação, de sacerdócio. No gnosticismo eles acreditam em eons mais uma vez a figura dos anjos como seres espirituais. Eles sabem que existe uma distância considerável entre Deus e o homem, e então vem o questionamento de como chegar até Deus.

No gnosticismo existem níveis de eons, e a pessoa tem o seu primeiro mediador, o seu primeiro nível espiritual.

À medida que essa pessoa vai evoluindo espiritualmente, ela vai aumentando o seu nível espiritual. Os eons, então, são seres espirituais que têm o papel de fazer esse trabalho de mediação. Na cabeça do gnosticismo os eons são anjos, seres espirituais. E em cada novo nível de revelação, um novo espírito ou um novo “anjo” conecta esse homem com Deus. E assim, no gnosticismo, eles entendem que é necessário sempre estar evoluindo para chegar a Deus. Podemos perceber que essa mediação de Cristo, na verdade, já está estabelecida desde o Antigo Testamento, embora muitos teólogos discordem disso. No entanto, é possível afirmar que Jesus Cristo é a figura central de toda a Bíblia, e quando chegamos no Capítulo 7, encontramos Melquisedeque, um sumo sacerdote que não tem linhagem, que apareceu na história, e que temos pouquíssimos dados sobre ele. No argumento de Hebreus, Jesus é maior que os Levitas, que os sacerdotes, que a antiga aliança; Jesus é aquele único que pode fazer mediação entre Deus e o homem, preenchendo todo esse espaço de maneira que não haja mais necessidades, como em muitas religiões. Um bom exemplo disso é a própria Igreja Católica, que vê a necessidade de ter santos ou mesmo Maria para fazerem essa mediação. E o que se prega no livro de Hebreus é que Jesus é suficiente e exclusivo nesse papel de mediação, discordando o condenando essa estrutura do gnosticismo e a necessidade de evolução até chegar a Deus. 
Os sacerdotes naquela época eram encarregados de cortar a carne do animal para o sacrifício, limpar, tirar o sangue, oferecer, enfim, são os sacerdotes os responsáveis por toda essa tarefa. No entanto, se o sacerdócio desses homens consistia em tais rudimentos, o sacrifício de Jesus tem um outro tipo, que está tipificado e evidenciado no ministério de Melquisedeque. Isso porque Melquisedeque não tem genealogia, ou seja, não tem pai, não tem futuro, não é limitado pelo tempo. Ele não tem uma genealogia como os demais sacerdotes, que eram obrigados a cumprir com as suas funções sacerdotais ao completar 30 anos. Diferente desses sacerdotes, Melquisedeque é um sumo sacerdote sem genealogia, ele simplesmente apareceu na história, e nem sabemos dizer de onde ele veio. E o que o escritor de Hebreus está querendo dizer é que, Melquisedeque não tendo uma linhagem, uma genealogia, ele está tipificando Jesus, o eterno. Melquisedeque então faz parte de uma outra categoria de sumo sacerdote. Enquanto os sacerdotes trabalhavam continuamente, o sumo sacerdote só entrava no Santo dos santos uma vez por ano. Dessa forma, Jesus é, então, mostrado em forma de parábola na pessoa de Melquisedeque. Portanto, o que vemos no capítulo 7 é uma comparação entre Melquisedeque e Jesus, mostrando que Jesus já era mediador mesmo antes da lei, porque aqui estamos falando do encontro de Abraão com Melquisedeque. A lei foi dada em Moisés, e Jesus já era a essência da mediação entre Deus e os homens mesmo antes de a lei ser entregue. Porque quando o autor faz afirmação de que Jesus era sacerdote da ordem de Melquisedeque, ele promove a ideia de que o sacerdócio de Jesus é um sacerdócio eterno. E o que é mais coerente, então? Voltar atrás para a religião dos anjos? Voltar atrás para religião dos sacerdotes? Voltar atrás para religião da velha aliança? Voltar atrás para aquilo que é provisório? Voltar atrás daquilo que assombra? Voltar trás para antiga mediação? O escritor de Hebreus está chamando a atenção para que o homem não olhe para atrás, porque existe um mediador que é mais perfeito. E se antes nós tínhamos um mediador no passado, o mediador de agora é mais perfeito. Nós temos toda essa herança de anjos, mas o que temos agora é incrivelmente mais especial. Portanto, a única maneira não voltarmos atrás é entendendo a dimensão e a profundidade de quem é Jesus Cristo. Quanto menos nós entendermos essa verdade, mas nós vamos pensar em voltar atrás. Quanto menos nós entendermos o significado e a força que Jesus Cristo tem na vida de cada crente, mais a ideia de voltar atrás irá tomar conta do nosso coração. Que Jesus Cristo cresça em seu coração, e que essa ideia de desistir simplesmente desapareça. 

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